quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A RUA DE SÃO BARTOLOMEU

Em tempos antigos a Rua de São Bartolomeu era o principal acesso à Vila por terra. Quando o seu porto foi muito movimentado, por ela circulavam necessariamente muitas das mercadorias que eram exportadas ou chegavam de fora. Barcelos, Braga, Guimarães seriam destinos principais. Também por lá passavam as pessoas quando iam para a ponte d’Ave para seguirem para o Porto.

Nos livros da décima

Conservam-se uns livros antigos destinados a registar, ano atrás de ano, quem devia pagar o imposto da décima e a respectiva quantia. O registo começava a ser feito na Rua de S. Bartolomeu. Isto é, era com as casas desta rua e seus donos que durante dezenas e dezenas de anos eles se iniciavam.
Igualmente o Prior Falcão, na memória paroquial, iniciou a lista das capelas da Vila pela de São Bartolomeu.
Esta tradição devia conservar memória de tempos muito antigos, de quando a câmara e por isso igualmente o centro da Vila ficavam na Praça Velha.
A Rua de S. Bartolomeu ia apenas dos arredores do aqueduto para poente; mas era uma rua bastante habitada.
Entre o aqueduto e a Igreja da Lapa, haveria apenas uma ou outra casa ou nenhuma. Esta igreja ficava “fora” da Vila, como outros lugares rurais do pequeno concelho.
Mais do que homenagear o apóstolo S. Bartolomeu, com a atribuição do seu nome à actual Rua da Lapa, indicava-se uma direcção, a direcção da Capela de São Bartolomeu.
Documentos mais recentes mencionam um pequeno lugar da Lapa, junto à igreja.

A Capela de Sebastião, a Casa de São de Sebastião, a Rua de S. Sebastião e o Largo de São Sebastião

A Rua de São Bartolomeu terminava junto à Capela de São Sebastião, que ficava onde hoje se identifica o Largo de S. Sebastião. Este santo também dava nome a uma rua, a Rua de S. Sebastião, que devia vir de sul, do lado do rio, a uma travessa, que corresponderia porventura ao começo da actual Rua das Mós, e a uma casa, a Casa de São Sebastião.
Da capela de São Sebastião o Prior Falcão diz apenas que nela se venerava a imagem do padroeiro e que era da administração da câmara.
A imagem de S. Sebastião foi levada da sua capela para a Igreja do Convento dos Carmelitas em 1836 – quando já não havia carmelitas em Vila do Conde. A partir desta data, na capela passou a venerar-se Santa Ana. Quando se pensou em abrir a estrada nova que vinha do Porto para a Póvoa, a Capela de Santa Ana foi demolida e os seus “pertences” foram levados para a que então se construiu no Cemitério e que foi benzida em 1859. Assim, quer o retábulo do altar-mor quer as imagens dos altares laterais estão lá.

A Casa de São Sebastião

Até recentemente, a casa onde actualmente está o Centro de Memória era identificada como a Casa de São Sebastião. O nome vinha-lhe naturalmente da capela que havia em frente.
Embora desconheçamos inteiramente o contributo que os seus sucessivos donos deram para a devoção desenvolvida em S. Bartolomeu e depois na Igreja da Lapa, é de crer que não tenham ficado alheios a ela.
O seu mais antigo proprietário conhecido foi Manuel Azevedo e Ataíde, comendador da Ordem de Cristo. Como em 1672 a vendeu a João Carneiro Rangel, cavaleiro do hábito de Cristo, foi contemporâneo do Pe. Manuel Álvares que restaurou a Capela de São Bartolomeu. Faleceu em 1677.
O proprietário seguinte foi Francisco Carneiro de Sotomaior, capitão-mor e cavaleiro da Ordem de Cristo.
A casa passou depois para João Carneiro Rangel de Sotomaior, que faleceu em 1738, herdando-a sua filha bastarda Maria Joana Carneiro Rangel de Sotomaior, que casou com Luís Inácio Pereira Coutinho de Vilhena, governador do Castelo de Vila do Conde. Este casal é assim coevo da construção da Igreja da Lapa.
Possuiu a seguir a casa José Pereira Coutinho de Vilhena, nascido em 1750, que casou com Luísa Casimira de Lira e Vasconcelos, senhora do Paço de Briteiros, concelho de Guimarães.
O herdeiro de José Pereira Coutinho de Vilhena foi António Pereira Coutinho de Vilhena Carneiro Rangel, tenente-coronel de milícias de Vila do Conde, que faleceu em 1842, sem filhos legítimos, sucedendo-lhe o irmão Luís Pereira Coutinho de Vilhena Carneiro Rangel de Vasconcelos. A casa esteve ainda na posse de duas irmãs destes até ser vendida, em 1856, ao Dr. José Joaquim de Figueiredo de Faria, a quem sucedeu Jorge Brandão Figueiredo de Faria[1].

Largo de São Sebastião

Depois que foi demolida a capela que fora de São Sebastião, depois que se mudaram os nomes da Rua e Travessa de São Sebastião, depois que à Casa de São de São Sebastião se retirou o painel que a identificava como tal, só a breve indicação toponímica de Largo de São Sebastião conserva memória da capela que ali houve.
  

Os “pertences” da capela que tinha sido de S. Sebastião foram depois utilizados na capela que se encontra no Cemitério.


Antiga Casa de São sebastião como a conhecemos hoje. Ao tempo da construção da Igreja da Lapa era possuída por Luís Inácio Pereira Coutinho de Vilhena, governador do Castelo de Vila do Conde. Há um assento de baptismo de 5 de Julho de 1867 em que é padrinho por procuração o “bacharel José Joaquim Figueiredo de Faria, morador na Rua da Senhora da Lapa”. Tinha adquirido esta casa dez anos antes e deve tê-la reconstruído quando já havia a estrada para a Póvoa a que hoje se chama Rua 5 de Outubro. A casa aparenta grande uniformidade de estilo. José Joaquim Figueiredo de Faria, advogado, foi administrador do concelho, presidente da câmara e deputado.




[1] Na casa fronteira à de São Sebastião também viveram nobres.

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