A RUA DE SÃO BARTOLOMEU
Em tempos antigos a Rua de São Bartolomeu era o principal
acesso à Vila por terra. Quando o seu porto foi muito movimentado, por ela
circulavam necessariamente muitas das mercadorias que eram exportadas ou
chegavam de fora. Barcelos, Braga, Guimarães seriam destinos principais. Também
por lá passavam as pessoas quando iam para a ponte d’Ave para seguirem para o
Porto.
Nos livros da décima
Conservam-se uns livros antigos destinados a registar, ano
atrás de ano, quem devia pagar o imposto da décima e a respectiva quantia. O
registo começava a ser feito na Rua de S. Bartolomeu. Isto é, era com as casas
desta rua e seus donos que durante dezenas e dezenas de anos eles se iniciavam.
Igualmente o Prior Falcão, na memória paroquial, iniciou a
lista das capelas da Vila pela de São Bartolomeu.
Esta tradição devia conservar memória de tempos muito
antigos, de quando a câmara e por isso igualmente o centro da Vila ficavam na
Praça Velha.
A Rua de S. Bartolomeu ia apenas dos arredores do aqueduto
para poente; mas era uma rua bastante habitada.
Entre o aqueduto e a Igreja da Lapa, haveria apenas uma ou
outra casa ou nenhuma. Esta igreja ficava “fora” da Vila, como outros lugares
rurais do pequeno concelho.
Mais do que homenagear o apóstolo S. Bartolomeu, com a
atribuição do seu nome à actual Rua da Lapa, indicava-se uma direcção, a
direcção da Capela de São Bartolomeu.
Documentos mais recentes mencionam um pequeno lugar da Lapa,
junto à igreja.
A Capela de Sebastião,
a Casa de São de Sebastião, a Rua de S. Sebastião e o Largo de São Sebastião
A Rua de São Bartolomeu terminava junto à Capela de São
Sebastião, que ficava onde hoje se identifica o Largo de S. Sebastião. Este
santo também dava nome a uma rua, a Rua de S. Sebastião, que devia vir de sul,
do lado do rio, a uma travessa, que corresponderia porventura ao começo da
actual Rua das Mós, e a uma casa, a Casa de São Sebastião.
Da capela de São Sebastião o Prior Falcão diz apenas que
nela se venerava a imagem do padroeiro e que era da administração da câmara.
A imagem de S. Sebastião foi levada da sua capela para a
Igreja do Convento dos Carmelitas em 1836 – quando já não havia carmelitas em
Vila do Conde. A partir desta data, na capela passou a venerar-se Santa Ana.
Quando se pensou em abrir a estrada nova que vinha do Porto para a Póvoa, a Capela
de Santa Ana foi demolida e os seus “pertences” foram levados para a que então
se construiu no Cemitério e que foi benzida em 1859. Assim, quer o retábulo do
altar-mor quer as imagens dos altares laterais estão lá.
A Casa de São Sebastião
Até recentemente, a casa onde actualmente está o Centro de
Memória era identificada como a Casa de São Sebastião. O nome vinha-lhe
naturalmente da capela que havia em frente.
Embora desconheçamos inteiramente o contributo que os seus
sucessivos donos deram para a devoção desenvolvida em S. Bartolomeu e depois na
Igreja da Lapa, é de crer que não tenham ficado alheios a ela.
O seu mais antigo proprietário conhecido foi Manuel Azevedo
e Ataíde, comendador da Ordem de Cristo. Como em 1672 a vendeu a João Carneiro
Rangel, cavaleiro do hábito de Cristo, foi contemporâneo do Pe. Manuel Álvares
que restaurou a Capela de São Bartolomeu. Faleceu em 1677.
O proprietário seguinte foi Francisco Carneiro de Sotomaior,
capitão-mor e cavaleiro da Ordem de Cristo.
A casa passou depois para João Carneiro Rangel de Sotomaior,
que faleceu em 1738, herdando-a sua filha bastarda Maria Joana Carneiro Rangel
de Sotomaior, que casou com Luís Inácio Pereira Coutinho de Vilhena, governador
do Castelo de Vila do Conde. Este casal é assim coevo da construção da Igreja
da Lapa.
Possuiu a seguir a casa José Pereira Coutinho de Vilhena,
nascido em 1750, que casou com Luísa Casimira de Lira e Vasconcelos, senhora do
Paço de Briteiros, concelho de Guimarães.
O herdeiro de José Pereira Coutinho de Vilhena foi António
Pereira Coutinho de Vilhena Carneiro Rangel, tenente-coronel de milícias de
Vila do Conde, que faleceu em 1842, sem filhos legítimos, sucedendo-lhe o irmão
Luís Pereira Coutinho de Vilhena Carneiro Rangel de Vasconcelos. A casa esteve
ainda na posse de duas irmãs destes até ser vendida, em 1856, ao Dr. José
Joaquim de Figueiredo de Faria, a quem sucedeu Jorge Brandão Figueiredo de
Faria[1].
Largo de São
Sebastião
Depois que foi demolida a capela que fora de São Sebastião,
depois que se mudaram os nomes da Rua e Travessa de São Sebastião, depois que à
Casa de São de São Sebastião se retirou o painel que a identificava como tal,
só a breve indicação toponímica de Largo de São Sebastião conserva memória da
capela que ali houve.
Os “pertences” da capela que tinha sido de S. Sebastião
foram depois utilizados na capela que se encontra no Cemitério.
Antiga Casa de São sebastião como a conhecemos hoje. Ao
tempo da construção da Igreja da Lapa era possuída por Luís Inácio Pereira
Coutinho de Vilhena, governador do Castelo de Vila do Conde. Há um assento de
baptismo de 5 de Julho de 1867 em que é padrinho por procuração o “bacharel
José Joaquim Figueiredo de Faria, morador na Rua da Senhora da Lapa”. Tinha
adquirido esta casa dez anos antes e deve tê-la reconstruído quando já havia a
estrada para a Póvoa a que hoje se chama Rua 5 de Outubro. A casa aparenta
grande uniformidade de estilo. José Joaquim Figueiredo de Faria, advogado, foi
administrador do concelho, presidente da câmara e deputado.
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