quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

III – TEMPOS RECENTES

O TEMA DA INFÂNCIA DE JESUS NA ARTE VILA-CONDENSE E A TERCEIRA LAPA

A diferença entre uma devoção que partia da lenda de Sernancelhe, primeira Lapa, e a que assentava na Lapa de Belém, terceira Lapa, só podia ser grande.
A nova devoção a Nossa Senhora do Presépio ia de encontro a uma tradição muito arraigada em Vila do Conde.
A mais antiga manifestação artística que aí aponta para os mistérios da Infância de Jesus encontra-se no túmulo quinhentista de Afonso Sanches.
No que resta do rico recheio dos coros de Santa Clara, conta-se um quadro, do século XVIII ou XVIIII, com o presépio.

A lenda da Menina do Merendeiro

Mas este tema devia quer particularmente querido às clarissas e por isso está numa das lendas de Santa Clara, a da Menina do Merendeiro, que se resume:
Havia uma vez no mosteiro uma clarissa muito devota do Menino Jesus. As outras irmãs criticavam-lhe aquela devoção, mas ela não ligava e continuava como dantes.
Certo dia pediu à abadessa para levar a merenda dela para uma visita que tinha na cela. A abadessa, surpreendida, perguntou quem era essa visita. Então ela confessou que era o Menino Jesus. A abadessa deixou.
Isto sucedeu várias vezes, até que um dia a abadessa foi ver quem realmente era. Viu um menino e pensou que seria filho da Menina do Merendeiro. Desconfiada, pediu a outras duas freiras idosas que fossem observar. As três entraram na cela, mas já não encontraram o menino.
Um dia que as mesmas estavam na igreja a rezar repararam que o Menino Jesus desaparecera do altar da Sagrada Família. Foram então ter com a Menina do Merendeiro e acusaram-na de o ter roubado. Ela disse que não, e as outras três pediram que fosse com elas ver. Ela respondeu que, se quisessem, ia, mas não adiantava porque o Menino estaria na igreja. E assim aconteceu: o Menino voltara. As outras três freiras pediram perdão a Deus e à Menina do Merendeiro, que foi com elas rezar.
Em tempos recentes o tema dos mistérios da Infância de Jesus ganhara novo alento: no século anterior, na Capela de Nossa Senhora do Socorro, tinham-se colocado uns ricos painéis de azulejo com as cenas da Infância[1].


Nas faces laterais da arca tumular de Afonso Sanches encontram-se figuradas cenas da Infância de Jesus.


Quadro com Jesus Menino.


O Presépio num dos painéis de azulejos da Capela de Nossa Senhora do Socorro.





[1] Entretanto, tornara-se bastante comum começar os testamentos com as iniciais JMJ, isto é, Jesus, Maria e José.
Já vimos que o sobrinho de Manuel de Jesus Castelo se chamava José do Nascimento Castelo. Nascimento deve ser o de Jesus.

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